By Dani Marques julho 10, 2023
No último dia 1º de julho, aconteceu o 2º Dia de Campo do Projeto Araguaia Sustentável. Realizado em Barra do Garças (MT), o evento é parte das atividades do projeto Araguaia Sustentável, lançado em 2022. Financiada pelo REM e executada pelo Imaflora, em benefício de pequenos e médios pecuaristas do Médio Araguaia, a iniciativa busca a articulação entre produtores e a disseminação de práticas de pecuária sustentável.
O tema deste Dia de Campo foi “Presente e Futuro: rentabilidade para todos”. Cerca de trezentas pessoas, em sua maioria pecuaristas, acompanharam as conversas realizadas na Fazenda Fortaleza, de Frederico Simioni.
Na oportunidade, a Liga do Araguaia realizou seu já tradicional encontro e promoveu o 14º Dia de Campo. A realização dos eventos em conjunto concretizam um dos principais objetivos do projeto: a promoção de integração com produtores mais experientes colaborando com pecuaristas de propriedades menores ou com menos tempo no negócio.
A ideia para o tema das rodas de conversas promovidas naquele sábado ensolarado e muito quente na propriedade de cria de gado nelore veio das conversas entre o Imaflora e a Liga.
A hora e a vez do Brasil
Para falar de presente, os convidados Aline Kehrle, Médica veterinária e administradora da Agropecuária Kehrle, Caio Penido, Presidente do IMAC, Frederico Simioni, proprietário da Fazenda Fortaleza, Ernesto Coser Netto, diretor de comunicação da APPS e Rodrigo Patussi, sócio-diretor da Terra Desenvolvimento Agropecuário; falaram sobre “Pecuária regenerativa, mercado chinês e novos negócios”. O foco da conversa foram novas técnicas e novos negócios, além do cenário da pecuária no Brasil e perante o mundo.
Abrindo os debates e mediando as conversas do dia, Roberto Grecellé, da PRADO Estratégia para Agronegócios, falou do jeito de ser e da forma de fazer a pecuária no Brasil. “Temos que valorizar a comunicação do setor e destacar ainda essa crescente preocupação, não só da sociedade, mas também dos criadores de gado, em relação aos impactos ambientais da nossa atividade. Devemos ser capazes de reconhecer e promover para o mundo todo a força, a potência e o superlativo da nossa atividade”.
Sobre novidades já em prática em fazendas por todo o Brasil, Aline destacou os avanços na pecuária regenerativa e ao manejo, como o feito no pastejo ultra denso. “Com essa técnica, o produtor promove uma grande concentração de animais numa área restrita. Dessa forma, ele pode criar mais gado num mesmo espaço, sem precisar abrir novas áreas na propriedade”. A veterinária explica, ainda que esse tipo de manejo imita o comportamento natural de rebanhos selvagens, contribui para mudanças nos hábitos alimentares do gado e promove a recuperação da pastagem, proporcionando um pasto melhor e sempre fresco.
Quanto ao papel do Brasil no mercado internacional, Caio Penido destacou as possibilidades decorrentes do aumento do consumo de carne pelos chineses. “Por conta do tamanho de sua população, a grande preocupação da China é a segurança alimentar. Eles precisam contar com fornecedores capazes de produzir para atender à crescente demanda do país. É um mercado extremamente promissor, interessado em preço e segurança alimentar. Nós temos hoje a faca e a carne na mão“, ilustrou Caio.
Para o futuro acontecer, é preciso acreditar nele
A segunda parte do Dia de Campo teve como tema “Transformando desafios em oportunidades”. A roda de conversa reservada para falar do que vem pela frente contou mais uma vez com Caio Penido e recebeu também, Carmen Perez, da Fazenda Orvalho das Flores, Lisandro Inakake, coordenador de projetos do Imaflora, e Daniel Brandão, diretor de impacto da Vox Capital.
Para Caio, o mercado brasileiro deve se impor às demandas de mercados, por exemplo, como o europeu. Reconhecidamente resistente à ideia de desmatamento zero – visto por ele como uma meta impossível -, para o pecuarista, o Brasil tem a melhor legislação de preservação das florestas do mundo, o Código Florestal. Para ele, falta ao país explicar e demonstrar ao mundo como se tornou essa potência agroambiental seguindo ao código. “De qualquer forma, tanto Europa como as ONGs ajudam o setor a avançar”.
Lisandro Inakake, coordenador de projetos do Boi na Linha, complementa a fala de Caio: “A alta exigência da sociedade e do mercado internacional deve nos inspirar a avançar numa agenda cada vez mais progressista. O Brasil deve assumir seu papel de protagonista no setor e começar a qualificar o debate e pautar o diálogo, não o contrário”.
Reconhecida pelo seu trabalho pioneiro em bem-estar animal, Carmen Perez ressaltou ainda a importância dos demais segmentos da pecuária. “Não é só a carne. Temos o couro como um importante sub produto dessa indústria. O couro está aí, já existe”.
Lembrando o crescente interesse – especialmente dos jovens – por produtos de origem conhecida e produção responsável, Carmen fala sobre as oportunidades de um dos setores mais ricos e poderosos do mundo – a moda. “São muitos desafios, mas também muitas oportunidades nessa indústria. Fazendas certificadas, rigorosas com as práticas de bem estar animal, – evitando, por exemplo, maltratar o gado e deteriorar o couro com a marca fogo, devem se unir às grifes”.
Falando sobre investimentos ao setor, Daniel Brandão abordou o interesse de governo e mercado em estimular novos mercados e reconhecer práticas responsáveis. “Vimos agora, com o Plano Safra. E acontece o mesmo com investidores privados. Dinheiro existe, mas ele deve ir pras mãos de quem não se preocupa só em acumular e aumentar a produção a qualquer custo. É importante”.
No encerramento das rodas de conversa, Roberto Grecellé, salientou a massiva presença de jovens produtores e da grande perspectiva de futuro. “O que temos visto é o crescimento de uma pecuária jovem, inspiradora e inquieta. Esse produtor precisa de apoio, assistência técnica e acesso a crédito para ser capaz de identificar e aproveitar oportunidades e crescer cada mais”, conclui.